Um pouco sobre a História da Contabilidade

O painel “Evolução da Contabilidade”, que hoje decora o hall de entrada do CRCMG, foi criado pelo artista plástico Sinval Fonseca, que pesquisou sobre o tema através de visitas ao museu de contabilidade do CFC, em Brasília, e de entrevistas com o Professor Doutor Antônio Lopes de Sá.

historia da contabilidade

Cada quadro do Painel simboliza uma fase da história, descritas abaixo.

Origem da Contabilidade / Contabilidade do Mundo Antigo

A Contabilidade existe desde os primórdios da civilização e, durante um longo período, foi tida como a arte da escrituração mercantil. Utilizava técnicas específicas, que foram sendo aperfeiçoadas e especializadas, sendo algumas delas aplicadas até hoje. Equivale ao período que se inicia com a civilização do homem e vai até 1202 da era Cristã, quando apareceu o LIBER ABACI, de autoria de LEONARDO PISANO.

Contabilidade do Mundo Medieval

Período que vai de 1202 da era Cristã até 1494, quando apareceu o TRATACTUS DE COMPUTIS ET SCRIPTURIS (contabilidade por partidas dobradas), de FREI LUCA PACIOLO, publicado em teoria dos números positivos e negativos, obra que contribuiu para inserir a contabilidade entre os ramos do conhecimento humano.

Contabilidade do Mundo Moderno / Contabilidade do Mundo Científico

Período que vai de 1494 até 1840, com o aparecimento da obra LA CONTABILITÁ APPLICATTA, obra marcante na história da contabilidade, premiada pelo governo da Áustria. O período científico inicia-se em 1840 e continua até hoje.

Embora as alegorias e símbolos inseridos no painel não representem cópia fiel de representações existentes, decorrem de livre interpretação, até porque no mundo fenomênico das artes não se estabelecem limites à pesquisa. C, 2002.

O PATRONO DA CONTABILIDADE
São Mateus – Padroeiro dos Contabilistas

São Mateus foi um contabilista que atuava na área da Contabilidade Pública, pois era um rendeiro, isto é, um arrendatário de tributos. O exercício da sua profissão exigia rígidos controles, os quais se refletiam na formulação do documentário contábil, sua exibição e sua revelação. Escriturava e auditava. Era um publicano e, por isso, não era bem visto pela sociedade, sendo considerado um pecador. Na verdade, ele gozava de má fama pelo fato de ser um cobrador e arrecadador de tributos. Chamava-se telônio o local onde se efetivava o pagamento dos tributos e onde também se trocava moeda estrangeira – um misto de casa de câmbio e de pagamento dos tributos.

Mateus nasceu em Cafarnaum. Não se conhece a data do seu nascimento. Seu pai, Alfeu, deu-lhe o nome de Levi. Sua cidade natal era cortada pelas principais estradas da Palestina, ponto de convergência e centro comercial da região. Jesus Cristo tinha especial simpatia por essa cidade, tendo nela pregado a sua doutrina. Na época, era uma província romana.

São Mateus - O Patrono da Contabilidade

Em sua peregrinação, Cristo passa diante do telônio de Levi, para, e o chama: “Segue-me”. Levi se levanta, acompanha o Mestre e abandona seus rendosos negócios. Troca de nome e de vida. Diz São Jerônimo que Levi, vendo Nosso Senhor, ficou atraído pelo brilho da divina majestade que fulgurava em seus olhos. Convertendo-se ao cristianismo, adotou o nome de Mateus, que significa “o dom de Deus”. Mateus seria corruptela de Matias. Mateus foi um dos doze apóstolos de Cristo e o primeiro dos quatro evangelistas. Antes de sua conversão, era o mais rico e o mais inteligente de todos eles. Escreveu o relato das pregações de Cristo por volta dos anos 50 d.C na língua siro-chaldaico. O seu evangelho é considerado o mais completo, o mais lindo e escorreito.

Mateus marcou a virada de sua vida com um banquete que ofereceu aos amigos. Nele compareceu Cristo, o que ensejou questionamentos e reverbérios por parte dos escribas e fariseus, classes atingidas pela nova pregação. Diziam: “este Homem anda com publicanos e pecadores e banqueteia-se com eles”. Tais recriminações não pouparam também os apóstolos: “como é que vosso Mestre se senta à mesa com os pecadores?” Tais críticas mereceram as famosas palavras de Jesus Cristo: “Não são os sãos, mas sim os doentes, que necessitam do médico. Não vim a chamar os justos, senão os pecadores.”

Após a cena descrita no chamado “Evangelho do Espírito Santo”, na qual os apóstolos receberam o dom da sabedoria, saíram os mesmos pelas várias regiões para a difusão religiosa. Mateus pregou, em primeiro lugar, na própria Palestina, e em seguida, dirigiu-se à Arábia e Pérsia, deslocando-se finalmente para a Etiópia, onde encontrou a morte.

Diz São Clemente que Mateus era um santo de penitência e mortificações. Alimentava-se de ervas, frutas e raízes. Sofreu maus tratos e foi hostilizado na Arábia e na Pérsia. Teve os olhos arrancados e foi colocado na prisão na cidade de Mirmene, onde aguardaria sua execução, a ser feita em data solene consagrada a deuses pagãos. Na prisão, onde estava acorrentado, recebe o milagre divino da restituição dos seus olhos e da sua libertação. Alcança a Etiópia, onde prega a doutrina cristã pela última vez. É repelido e encontra forte oposição dos guias religiosos pagãos etíopes.

Ocorre, entretanto, uma consternação real. Falecido o jovem príncipe Eufranon, São Mateus é chamado e realiza um milagre que causa admiração: ressuscita o morto. Esse fato repercutiu em todo reino. Incensado, bajulado e endeusado, São Mateus trata de colocar as coisas em seus devidos termos e diz: “Eu não sou Deus, como julgais que seja, mas servo de Jesus Cristo, Filho de Deus vivo; foi em seu nome que ressuscitei o filho de vosso rei; foi ele que me enviou a vós, para vos pregar sua doutrina e vos trazer sua graça e salvação.” Palavras que calaram fundo na alma dos etíopes. Foi elevado o número das conversões. A Etiópia, na época, era um dos principais bastiões do cristianismo.

A conversão da família real era fato consumado. A princesa Efigênia, filha mais velha, faz voto de castidade perpétua. Com o falecimento do rei Egipo, sobe ao poder o seu sobrinho Hirtaco. Desejando fortalecer politicamente o reino, Hirtaco resolve despojar Efigênia. Mas havia o impedimento: o voto proferido pela princesa. Hirtaco exige a interferência e a autorização de São Mateus para realizar os seus desígnios. Mateus se recusa, informando ao rei não ter competência para envolver-se no caso, e consagra Efigênia a Deus. Contestado em seu plano e irado, Hirtaco dá ordens para a execução de Mateus, que celebra a santa missa quando dele se aproximam os soldados e executam a ordem real.

No ano de 930, seus restos mortais foram transportados para Salermo (Itália), cidade da qual é padroeiro. Transcorria o ano 69 d.C, quando Mateus foi assassinado, Efigênia cumpriu seu voto. Fugiu acompanhada de várias moças convertidas à fé cristã, internando-se em um monastério. Sua vida foi consagrada a Deus. Foi canonizada como Santa Efigênia.

A SIMBOLOGIA DA CIÊNCIA CONTÁBIL
O Caduceu Estilizado

Mercúrio era um deus da mitologia romana, que tinha sobre seu protetorado várias coisas, dentre elas, o comércio. Era filho do deus Júpiter (o maior), e o mensageiro de todos os deuses, em razão de sua grande agilidade (simbolizadas pelas duas asas que ladeiam seu capacete) e de dispor da confiança da máxima divindade.

O caduceu era um bastão de ouro que Mercúrio recebera em troca de instrumentos musicais que inventara (a lira e a flauta) e que haviam maravilhado a Apolo (que detinha poderes e conhecimentos mágicos e era o titular do caduceu). Não só Mercúrio trocou os objetos como exigiu de Apolo que lhe repassasse segredos de magia, notadamente, da adivinhação.

O caduceu passou a ser símbolo dos atributos de Mercúrio, e esse de tal forma aprofundou-se na adivinhação que passou a conhecer a sorte de outros seres pelo jogo de pedras (semelhante ao de búzios). Mais tarde, usando o capacete de Hades, Mercúrio tornava-se invisível, e assim, prestou grandes serviços a outros deuses, entre outras coisas, derrotando e matando o temível gigante Hipólito. Tais vitórias transformaram o habilidoso Mercúrio no principal intérprete da vontade divina. Por esta razão ele era, também, o mais ocupado de todos os deuses da mitologia.

Muitas outras atribuições e protetorados a mitologia confere a Mercúrio. Ao tomar o caduceu como seu símbolo, ele também se tornou o símbolo de tudo o que protegia, inclusive o comércio. Como a Contabilidade Comercial foi a ciência mais importante durante milênios, é justificável a adoção de Mercúrio como patrono da Contabilidade. A própria literatura contábil atesta essa predominância – a primeira obra impressa de contabilidade industrial surgiu no início do século XVII – e os locais onde se ensinava a contabilidade eram denominados “Escolas de Comércio”.

Em Portugal (século XVIII), quando teve início o ensino da Contabilidade, em escolas onde se formavam os Contadores que vinham para o Brasil, o processo didático denominava-se “Aulas de Comércio”. Ainda hoje possuímos os colégios comerciais, formando técnicos em Contabilidade. Essa poderosa associação de “Aulas de Comércio”, “Escolas Técnicas de Comércio”, “Escrita Mercantil”, “Livros Comerciais” (expressões do Direito), justifica a adoção de Mercúrio, como evocação representativa, e do caduceu – representante simbólico desse mesmo Deus – como símbolos da Contabilidade.

O caduceu, todavia, por muito tempo, também simbolizou a indústria, e foi representado por um ramo de oliveira ou de loureiro no qual se enrolavam duas serpentes. Para o anel do contabilista adotou-se o caduceu estilizado, ou seja, o que possuía o bastão de Apolo que Mercúrio trocou pelos instrumentos de música, envolvido por duas serpentes e encimado pelo capacete que tornava o deus invisível, ladeado de duas asas que representavam a velocidade e a agilidade desse mesmo deus. Em simbologia, tudo se permite.

O que o caduceu evoca, para os contabilistas, é o respeito à divindade (ainda que mitológica) e à sugestão de que ele possa, tal como o deus Mercúrio, proteger as riquezas com a própria sabedoria. Nesse caso, a classe contábil se faz representante de Mercúrio ao proteger o comércio (no sentido amplo de todas as atividades, pois o próprio Mercúrio também servia a todos) com a orientação, zelo e uso de uma ética que vai até onde for necessário para defender os interesses dos empreendimentos.

Mercúrio era tido como o deus inventor da Escrita Contábil. Tal é a plenitude da ação do contabilista, pois o caduceu estilizado absorve não só o bastão de ouro, mas, também, o capacete e as asas, ou seja, tudo o que Mercúrio utilizava para proteger os empreendimentos.

O caduceu nos sugere a responsabilidade de ampla proteção ao patrimônio dos empreendimentos, de modo a ensejar a eficácia das células sociais e, pela soma delas, a felicidade das sociedades humanas. Essa condição, somada ao respeito às leis, completa a simbologia das laterais de nosso anel profissional, de alta relevância e características do dever profissional.

O Anel do Contabilista

Pedra: Turmalina Rosa Clara, ladeada de Diamantes.

Aro: De um lado, o Caduceu de Mercúrio, que é a insígnia do Deus do Comércio (bastão que representa o poder, com duas Serpentes entrelaçadas, simbolizando a sabedoria; e o capacete com duas Asas que representam Atividade e Diligência); do outro, as Tábuas da Lei, com a legenda “LEX”.

A Pedra do Anel
Existem divergências quanto à cor da pedra do anel do Contabilista, e há os que desejam estabelecer uma para o Técnico em Contabilidade, a pedra rosa, e outra para o Contador, a pedra azul.

Pela tradição, vivendo a história dos Conselhos desde que nasceram, a origem da pedra do anel do Contabilista é de cor rosada, sendo ela um rubislite, segundo afirma o Professor Ynel Alves de Camargo.

Essa escolha decorre da influência do Direito sobre a Contabilidade, que foi muito grande nos séculos passados; sendo a pedra do advogado vermelha, a do Contador deveria ter a mesma coloração, em outra tonalidade, pois se entendia a profissão mais atada ao ramo do conhecimento jurídico (até hoje as legislações fiscal, previdenciária, trabalhista, comercial, civil e administrativa muito ocupam a ação profissional cotidiana e prática dos Contabilistas).

Essa hipótese é relacionada com a própria tábua da lei que se inseriu também como símbolo em nosso anel.

Só a partir das ideias da doutrina contábil materialista é que se entendeu que a Contabilidade e o Direito possuem métodos e finalidade de estudos bem distintos, justificando, pois, também, simbologias distintas.

O CFC, ao adotar como recomendável o uso da pedra rosada para o anel, prendeu-se às origens, fato que se entende compatível com o que é simbólico, pois, em realidade, as cores, as figuras, como associação de fatos, estão todas atadas a uma tradição.

O importante era que se definisse a questão e isso foi feito pelo CFC com respeito à ética e a uma história muito própria.

Fonte: Conselho Federal de Contabilidade. Mensagem a um futuro contabilista. 6.ed. Brasília: CFC, 2002.
O anel do Contabilista é sempre motivo de interrogação sobre seu verdadeiro significado. O que de fato significam os símbolos, quando se referem ao nosso exercício profissional, é matéria de nosso interesse. Sabemos que a interpretação é sempre um risco, mas a imaginação supre e compensa, quando nos permite dar sabor de dignidade ao que conosco carregamos. A simbologia do nosso anel perde-se na noite dos tempos, mas muito dela ainda resta para comentarmos e buscarmos em seus verdadeiros significados.

O anel do profissional da Contabilidade simboliza e exterioriza o compromisso, a aliança, a união do profissional com o conhecimento científico contábil, o campo do saber, e sua disposição de aplicá-lo em benefício da comunidade em que vive, engrandecendo e valorizando sua profissão e enaltecendo sua pátria. Ele se explicita à sua condição, traz-lhe a subserviência às normas científicas e a vinculação do seu comportamento aos preceitos da ética e da moral.

A Simbologia do Anel de Grau
Símbolos são lembranças de conceitos. Diz um antigo ditado que um símbolo vale mais que cem palavras. Nas profissões, os anéis representam os graus que conseguimos, ou seja, evidenciam que nos qualificamos em determinado campo do conhecimento. Como a aliança representa a constituição matrimonial, e os escudos representam as agremiações ou entidades, da mesma forma, os anéis são peças representativas, e enquanto “anéis de grau”, eles identificam as profissões que dependem de estudos.

Atuando em uma das mais antigas profissões do mundo (a Contabilidade já era exercida na Suméria há quase 6.000 anos), o contabilista também criou o seu anel. No Brasil, ele vem desde o tempo dos “peritos-contadores” (há mais de 50 anos), e desde seu aparecimento possui as seguintes características:

a. estrutura em ouro;
b. pedra principal cor de rosa forte (rubislite);
c. ladeando a pedra principal, dois brilhantes, um em cada flanco;
d. em uma lateral, a tábua da lei em platina ou ouro branco;
e. em outra lateral, o caduceu estilizado em platina ou ouro branco.

Todos esses componentes formam um agregado e possuem um significado, ou seja, eles são simbólicos. As interpretações variam, mas as que conhecemos e admitimos passam a prevalecer. Em verdade, tudo vem de uma tradição, de um costume, e não de um dever ou obrigação. Símbolos não são normas compulsórias, a não ser, quando integrantes de um complexo interpretativo como os idiomas e os teoremas.

A Simbologia na Realidade Profissional

align=”justify” O anel do contabilista é um agregado de símbolos que deve sugerir ao seu portador lembranças importantes, relativas ao desempenho profissional específico de sua área, não havendo distinção entre o anel do Contador e do Técnico em Contabilidade. Sendo um objeto identificador de cultura e habilitação para o exercício da profissão contábil, seus símbolos inspiram significações nitidamente sociais, ligadas à lei e à proteção dos que desempenham atividades, visando cumprir finalidades humanas produtivas, em favor próprio e da sociedade.

A tábua da lei, o caduceu, a pedra rosa forte e os brilhantes são símbolos de qualidades culturais da profissão que lembram os deveres do contabilista como colaboradores e geradores de informações no cumprimento do direito, como guardiões da riqueza nas atividades produtoras da satisfação das necessidades humanas e sociais.

Fonte da Informação:
Site do Conselho Regional de Contabilidade de Minas Gerais CRC/MG (www.crcmg.org.br)